A crise económica e a escola


Encontrei esta reportagem por acaso, mas não pude ficar indiferente ao conteúdo, que, afinal, nos toca a todos, aqui tão perto, mesmo ao lado ou, humilhantemente, dentro das nossas casas. A crise...essa crise de que todos falamos e todos sentimos, mas, sem dúvida, uns muito mais na pele do que outros. Afinal, quem mergulha nas malhas do desemprego ou tem salários miserávelmente baixos; quem passa por divórcios penosos em que, não raras vezes, as responsabilidades parentais de um dos ex-conjuges (quase sempre o pai) são banidas; ou quem vivencia processos amargos de doenças ou acidentes graves que mudam a estrutura e o papel nas famílias, sem dúvida, que a crise, para esses, é sempre bem mais agonizante.
Se a crise é de agora? É certo que a conjuntura internacional é o bode expiatório da situação em que o país mergulhou. Mas não mergulhou há um ano, quando vimos os valores do ouro negro dispararem e as grandes potências abanarem. Não, o país já está submerso há muito, fruto de uma ditadura demasiado longa, que nos isolou do resto do mundo, e dos sucessivos erros de gestão, dos sucessivos governos da pseudodemocracia, que vivemos apaticamente, como se o país fosse dos Sócrates, dos Guterres ou outros da laias que se pavoneiam nas bancadas da assembleia da República, para quem não sabe ou não se recorda, representantes do povo.
Mas não deixa de ser gritante, percebermos que numa Europa, dita, desenvolvida, vivamos condições terceiro mundistas. E é gritante que uns quantos, senhores e senhoras, vão astutamente engordando os bolsos sem que o remorso, quando muito, os incomode.
E se é certo que ter "qualidade de vida" é algo muito subjectivo e depende, em grande parte, das nossas expectativas perante o mundo e as coisas, também não é menos certo de que, para viver uma vida minimamente digna, é necessário vermos asseguradas as nossas condições básicas de sobrevivência - alimentares, de higiene e de habitação.
É desta trilogia que depende, em grande parte, a qualidade das relações sociais que vamos ou não estabelecer pela vida fora.
Quero eu com isto dizer que, se tivermos a barriga cheia, condições sanitárias e cama lavada poderemos ser excelentes? Obviamente que não. A qualidade das relações, dos vínculos afectivos que se estabelecem é que são e serão sempre os mediadores da nossa qualidade de vida. Contudo, se não tivermos condições para suprir as nossas necessidades básicas, muito dificilmente conseguiremos ser seres humanos socialmente excelentes.

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