A era descartável

A finalização do século XX e o início do século XXI trouxe, entre outras coisas, práticas e costumes, produzidos em tempo recorde.
Com a finalidade de atender à demanda dos diversos produtos, criaram-se as embalagens descartáveis que, sem a necessidade de retorno, davam às empresas uma agilidade compatível com a alta exigência do processo de globalização.
Mas, à mesma velocidade com que se aprovava tal prática, como efeito colateral do procedimento, a sociedade era penalizada com o descarte do próprio homem. Os avanços tecnológicos tornavam o ser humano ultrapassado e inútil. A lentidão dos esforços humanos não atendiam às exigências do mercado. Robôs, máquinas com o processo CNC (Controle Numérico Computadorizado) faziam do homem um ser inútil, sucateado diante do arrojo tecnológico.
O desemprego trazia no seu bojo a queda do nível de respeito pelas figuras de referência e a busca de direitos equatitários formava no mercado uma concorrência desleal. As altas exigências impostas pela sociedade consumista, davam oportunidade à propagação do mercado ilícito e à insegurança generalizada.
Até mesmo a contravenção, na viragem do milénio apresentou uma nuance interessante. A marginalidade, que antes era ocupação dos desqualificados, para adentrar nessa era precisou de uma reciclagem total. Os contraventores deste milénio passaram por bancos de faculdade, concursos públicos a ponto de constituírem-se autoridades.
Assim, a somatória dessas, e outras, tendências fazia surgir no novo milénio, uma era onde o homem, o ser supremo da natureza, criado à imagem e semelhança de Deus, passasse a ser descartável.
E o terceiro milénio dá então início a uma era em que o homem passa a ser descartável: no mercado de trabalho, no lar, nas relações afectivas, no âmbito social. Passando a ser considerado pelos formadores de opinião, muitas vezes, figura patética. Rebaixado à categoria de antiguidade, a ser brevemente apreciada em museu.

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