O processo de luto nas crianças

O luto é uma experiência angustiante mas comum. Mais cedo ou mais tarde, a maioria de nós vai sofrer a perda de alguém próximo.
O processo de luto dá-se sempre que há uma perda, mas principalmente depois da morte de alguém que amamos. Nas horas e dias seguintes à morte desse "outro" importante, a maioria das pessoas passa por uma fase de descrença, ficando totalmente "atordoadas", como se não pudessem acreditar no acontecido.
Depois desta fase de "torpor", poderá surgir um período de grande agitação, ansiedade e ânsia pelo que foi perdido. Surge o sentimento de querer encontrar essa pessoa seja de que maneira for, mesmo que tal seja impossível.
Outro sentimento comum é o sentimento de culpa. Nesta altura, começam a pensar em tudo aquilo que podiam ter feito ou dito e que já não tem retorno, ou mesmo naquilo que podiam ter feito para impedir essa morte.
À medida que o tempo passa, a angústia intensa resultante do luto começa a desaparecer. A depressão atenua-se e será possível finalmente começar a pensar noutros assuntos e até em projectos para o futuro. No entanto, o sentimento de perda é algo que nunca desaparecerá por completo.
Se para um adulto nem sempre é fácil lidar com a perda, para as crianças o processo de luto pode ser facilitado desde que haja uma atitude de abertura e honestidade para com a criança. A morte é um assunto que não deve ser evitado pois evitar falar sobre ele leva a que a criança sinta o assunto como “proibido” ou como tabú.
A linguagem a usar deve ser clara, directa, simples e adequada à idade da criança, mas sem se recorrer a eufemismos. Deste modo, a criança deve saber a verdade e esta deve ser explicada com todos os detalhes e informações que ela consiga compreender.
Contudo, para adequarmos a nossa linguagem ao nível de compreensão da criança, devemos estar conscientes que o conceito de morte é percebido de diferentes formas, nas diferentes fases de desenvolvimento que atravessa. Assim, o conceito de morte é compreendido de diferentes formas, consoante a idade:
  • A criança entre os 2,5 e 3 anos: consegue reconhecer a ocorrência de uma morte, mas não compreende a realidade da mesma - pode encarar a morte como algo temporário, sobretudo em idade pré-escolar, o que em muito se deve à influência dos jogos e dos desenhos animados (fazer-se de “morto” e depois levantar-se).
  • Entre os 5 e os 9 anos: em geral, encara a morte como algo permanente, final e universal, podendo personificar a morte como uma pessoa ou um fantasma que leva as pessoas - normalmente, já está preparada para fazer parte dos rituais que envolvem a morte, como por exemplo, visitar a família do falecido, ir ao funeral, etc. Ainda assim, estas situações devem ser detalhadamente explicadas à criança, incluindo o objectivo do acontecimento.
    A partir dos 10 anos: nesta fase é comum, tanto as crianças como os adolescentes, mostrarem relutância em falar sobre os seus sentimentos, em parte devido ao facto de considerarem que, sendo jovens, a morte é algo muito distante - as crianças em idade escolar conseguem entender o significado da morte, mas podem agir como se nada se tivesse passado devido a se sentirem sobrecarregadas com todos os sentimentos com que têm de lidar. Poderão surgir sintomas dores de cabeça, de estômago, cansaço fora do habitual, etc.), que mais não são do que a manifestação física de sentimentos não exteriorizados; podem ainda aparecer mudanças no comportamento, desconcentração, diminuição do rendimento escolar e mesmo resistência em ir para a escola.
  • Adolescentes: apesar de terem uma compreensão da morte semelhante à dos adultos, os adolescentes têm ainda mais dificuldades em lidar com a sua dor do que as crianças; da sua dor e perda podem resultar problemas de comportamento, abandono escolar, queixas físicas, promiscuidade sexual e até mesmo tentativas de suicídio.
Para além do que já foi referido, é importante as famílias promoverem a recuperação emocional da criança, ajudando-a a passar pelo processo de luto. Isto pode se feito falando abertamente sobre a morte que ocorreu, deixando a criança participar nos rituais, caso ela mostre interesse, manter as rotinas familiares, deixar a criança perceber que todos estão a sofrer, etc.
Poderá ser igualmente útil colocar uma fotografia do falecido num local visível da habitação, o que ajudará a criança a perceber que se pode falar sobre a pessoa que morreu e mantê-la nas suas memórias.

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