Como ensinar a partilhar

As crianças pequenas têm dificuldade em aprender a partilhar. Ainda não conhecem as regras de cortesia e a palavra civismo não existe ainda no seu vocabulário. Saber partilhar faz parte de uma aprendizagem difícil para as crianças, que exige maturidade cognitiva e aprendizagem social. Nestas idades, e sobretudo cerca dos 2, 3 anos, em que se processa uma mais vincada diferenciação e afirmação do «eu», têm um forte desejo de posse pelas suas coisas e também pelas dos outros.

Quando a criança brinca com as outras crianças, é natural que briguem pela posse da bola ou do carrinho. Mesmo que a bola seja da outra criança, é possível que a criança chore e grite pela sua posse, dizendo «É minha! É minha!», como se, na realidade, a bola lhe pertencesse. Também a outra criança, se for da mesma idade, pode estar a lutar pela posse do carrinho que é da outra, com igual veemência.

Entre irmãos as brigas podem ser mais violentas, quando a diferença de idades não permite que o mais velho entenda ainda o comportamento do irmão. Lágrimas, gritos e, às vezes, até pequenas agressões entre eles não conseguem sanar a disputa. O egocentrismo é natural desta idade, pois as crianças têm de fortalecer o seu sentido de «eu», e isso passa por um exagerado sentimento possessivo.
Ainda não aprenderam o sentido de «emprestar» e desprenderem-se das suas coisas significa a sua perda para sempre. Todas as coisas de que gostam, querem-nas só para si.

A capacidade dos pais ou outros cuidadores gerirem este tipo de conflitos é importante em toda a sua socialização. Do tacto dos pais ou cuidadore, dependerá que a criança aprenda a partilhar e negociar e possa estabelecer um intercâmbio saudável com os seus pares. O percurso não é fácil e as crianças não aprendem rapidamente mas, se os adultos, com muita paciência, as forem ensinando e mostrando o seu desagrado quando a criança tenta retirar um brinquedo a um companheiro ou a elogiarem quando permite que outra criança brinque com os seus brinquedos, atingirão mais depressa os seus objectivos.

As estratégias mais efectivas:

- A permuta
Ensinar à criança que pode ter vantagens com este tipo de relação vai ajudá-la a entender melhor as relações sociais. Experimente, por exemplo, ir com ele ao parque e levar apenas o seu camião preferido. Quando chegarem ao parque, ela vai certamente querer brincar com a bola que uma das crianças deixou abandonada na relva. No entanto, quando a criança quiser brincar com ela, o outro reclamará de imediato a sua posse. Assim, ensine-lhe que, se emprestar o seu lindo camião vermelho à outra criança enquanto ele brinca com a bola, os dois ficarão satisfeitos.

- O acordo
O parque infantil é propício a situações de conflito. Suponha que duas crianças querem andar ao mesmo tempo no baloiço. Como deve proceder? Fale com ambos e proponha um acordo. «João, tu andas 5 minutos e depois deixas andar o Pedro outros 5 minutos. Depois, andas tu de novo e a seguir o Pedro.»

- O civismo
Quando duas crianças brigam pelo mesmo brinquedo, pelo mesmo lápis ou até pelo mesmo bolo, a educação geralmente consegue resolver muitos problemas. Diga à criança: «Se pedires por favor, o menino vai emprestar-te o brinquedo durante um bocadinho» ou «Os meninos bonitos não brigam por um lápis, pede por favor o lápis e o menino vai certamente emprestar-to».

- O elogio
Demonstre à criança como fica feliz sempre que tiver um comportamento amável ou generoso para com qualquer outra criança. Expresse-lhe claramente a sua aprovação e vai ver como se vai sentir orgulhoso. Com este tipo de atitudes vai ajudá-lo a criar alicerces para se mover na sociedade.

É também nestas idades que, ao estabelecerem os primeiros contactos, conseguem fazer os primeiros amigos. Emprestar o seu carrinho preferido ou deixar dar uma “lambidela” no seu gelado são algumas das primeiras cedências na sua evolução.

Adaptado de artigo publicado no jornal Folha de Portugal (Set. de 2009)

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