O ritmo quase sempre alucinante do quotidiano está a roubar horas de sono aos portugueses, com um prejuízo incalculável para a qualidade de vida.
O sono é importante para o equilíbrio psíquico, cognitivo e corporal e isto é particularmente relevante para as crianças por estarem em fase de crescimento.
As crianças com défices de sono têm um risco acrescido de doenças, são mais propensas a problemas de irritabilidade e até de violência e, além disso, têm menos capacidade a nível do raciocínio abstracto. Ou seja, têm mais dificuldades na aprendizagem da matemática e o rendimento escolar pode ficar comprometido.
É frequente os adolescentes dormirem menos de 7 horas por dia e isto é preocupante porque, entre outros factores, as crianças têm um número excessivo de actividades escolares.
A regra" das 8 horas de sono dos adultos não se pode aplicar aos mais novos.
Negligenciar as horas de sono é "hipotecar o futuro". E, no caso dos adultos, hipotecar uma "velhice saudável".
Há falta tranquilidade em Portugal, estamos a viver uma espécie de novo fado, um desassossego global e temos uma sociedade completamente "alvoraçada". Sem querer fazer "o elogio da preguiça" há que apelar ao bom senso e, embora o sono não traga a solução para os nossos problemas, as pessoas podem encontrar soluções se tiverem uma atitude mais tranquila, mais ponderada face à vida.
Basta, por exemplo, uma noite em branco para que surjam lapsos e dificuldades de compreensão. As frases ditas na negativa são, nestas condições, mais difíceis de perceber do que na afirmativa, o que poderá dar lugar a confusões e alguns equívocos. Além disso, há marcadas alterações de humor e, se a privação for crónica, pode haver depressão.
O sono parece ser muito importante também para restabelecer os mecanismos de equilíbrio do corpo, para baixar a temperatura do cérebro e para reequilibrar processos imunológicos. Efectivamente, poucas horas de sono podem acarretar um maior risco de infecções e, em casos prolongados, até de diabetes e obesidade.
Esta realidade aplica-se com maior relevo, nos trabalhadores que fazem turnos. Em Portugal, 30% da população activa trabalha por turnos, alguns dos quais completamente desajustados com o nosso relógio biológico. As consequências não poderiam ser mais vastas: maior risco de insónia, de consumo de álcool e de medicamentos para dormir, de doenças, de divórcio e de acidentes de viação...
Embora existam regras para que o trabalho por turnos não seja tão prejudicial, ninguém as conhece e, claro, ninguém as cumpre. uma dessas regras dita que os turnos não devem começar antes das sete da manhã. Em média, quem trabalha por turnos dorme menos uma hora e meia por dia. A agravar esta subtracção está o facto de que o sono durante o dia não é tão reparador como o nocturno. Porque estamos sincronizados pelo sol e quando dormimos durante o dia estamos fora de fase. Estar sincronizado pelo sol significa que temos uma curva bifásica com dois mínimos de temperatura ao longo do dia, um de madrugada, por volta das 4 da manhã, e outro a seguir ao almoço, no período da sesta, durante os quais a pessoa tem propensão para adormecer.
Estes dois picos estão relacionados com um dos aspectos mais dramáticos da privação do sono: os acidentes rodoviários.
Mudar os hábitos que nos têm sido impostos pela velocidade a que se vive hoje o quotidiano e encontrar mais tempo para dormir pode ser, então, um atalho para uma sociedade mais tranquila e produtiva. Porque "dormir bem é viver melhor".
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