Estratégias para alunos com espectro do autismo

Comunicação
  • As instruções verbais dadas devem ser simples, específicas e directas;
  • Não utilizar linguagem indirecta com sentidos ocultos. Uma criança com autismo pode responder “sim” à pergunta “tem horas?” ou “sabe que horas são?”, quando o que queria dizer era: “que horas são?”;
  • Evitar o uso de perguntas do género: “podes…?”, “vamos…?” ou “queres…?”, uma vez que estas resultam invariavelmente, numa resposta do género "sim/não" honesta, mas muitas vezes desapropriada. Deve ser usada uma abordagem mais directa, como, por exemplo: “Maria por favor senta-te agora”, que permitem ao aluno uma melhor compreensão daquilo que se lhe pede;
  • Quando, por exemplo, o aluno não percebe que a palavra “todos” também o inclui, deve-se utilizar uma frase muleta: por exemplo, “Luís, a palavra "todos" também te inclui”;
  • Utilizar um nível de linguagem que a criança possa compreender;
  • Atrair a atenção da criança antes de iniciar uma conversa (por exemplo, com um toque no ombro ou dizer o nome dela);
  • Depois de conseguir a atenção inicial do aluno é útil elogiar verbalmente e/ou usar um simples gesto (por exemplo, mão fechada com o polegar apontado para cima) transmitindo um sinal de recompensa visual e confirmando a correcção das respostas do aluno;
  • Utilizar imagens para ajudar à compreensão (exemplo: PECS);
  • Dar tempo à criança para que ele reaja ao que dissemos;
  • Ter paciência e esperar a resposta;
  • Considerar outras formas de comunicação, tais como a dramatização, a escrita, os gestos ou utilizar mímica ou imagens se for necessário;
  • Trabalhar com a criança no sentido de a incentivar à utilização de melhores formas de comunicação;
  • Responder a qualquer iniciativa de comunicação;
  • Utilizar situações naturais e reais para estimular a comunicação;
  • Criar necessidades de comunicação não fornecendo todo o material necessário; é importante ter a certeza de que o aluno conhece o material utilizado na tarefa;
  • Diversificar os contextos e parceiros de comunicação – sala de aula, recreio…;
  • Mediar a quantidade de informação e a forma como é transmitida à criança, uma vez que muita informação e mal estruturada pode ser motivo de confusão e mesmo de desmotivação para a criança;
  • Realizar qualquer actividade por escrito após uma discussão e instrução oral, bem como depois de situações práticas;
  • Utilizar para a orientação física os estímulos em três passos: 1) a instrução verbal; 2) a repetição da instrução verbal acompanhada de um gesto que indique para onde ele se deve dirigir; 3) a repetição da instrução verbal acompanhada de uma orientação física para indicar ao aluno até onde se dirigir;
  • Nos alunos que não lêem nem interpretam linguagem corporal e expressões faciais, as instruções verbais devem ser dadas de forma calma mesmo nas situações mais urgentes, exigentes ou frustrantes, e não confiar na capacidade do estudante para compreender outras formas de comunicação;
  • Reservar algum tempo do horário semanal dos estudantes para reflectir sobre o significado das palavras ainda que apenas durante dez ou quinze minutos diários ou semanais;
 Emoções/sentimentos
  • Tentar expressar claramente os seus sentimentos (ex. se estou feliz devo mostrar-me feliz e dizer que estou feliz);
  • Ajudar a criança a compreender e a explicar os seus sentimentos. Por exemplo, dar o brinquedo preferido à criança e dizer: “isto faz-te feliz”;
  • Nomear as emoções na hora em que elas acontecem, em situação natural;
  • Se a criança estiver ansiosa ou aborrecida, procurar um lugar sossegado onde ela se possa acalmar;
  • Aceitar que a criança pode precisar de algum tempo a sós;
  • Estimular a empatia (simpatia pelo sentimento dos outros);
  • Iniciar com emoções simples como alegria, tristeza, medo e depois passar para as emoções complexas e mais internalizadas como vergonha e orgulho;
  • Ensinar qual a resposta emocional apropriada para cada situação;
 Interacção Social
  • Incentivar a criança a interagir com os outros;
  • Com o tempo, ajudar a criança a desenvolver habilidades com o objectivo da relação com o outro e interacção social, por exemplo, treinando certas situações em casa ou na escola;
  • Deve-se partir sempre de objectos e situações que a criança já mostra interesse para iniciar a interacção social;
  • Explicar as regras de uma situação social, devendo referi-las, se for necessário;
  • Canalizar o comportamento para formas socialmente aceites. Por exemplo, se a criança gosta de bater palmas com força, incentivá-la a tocar um instrumento como a bateria;
  • Ensinar o aluno acerca de como um bom amigo é, e de como se comporta, não apenas durante os períodos de brincadeira, mas também durante as aulas. Explicar-lhe que ser inteligente significa ter mais do que um amigo e que devem aceitar o facto de não poderem ser amigos de toda a gente;
Mudanças
  • Preparar a criança para mudanças falando-lhe no assunto antecipadamente;
  • Utilizar meios visuais, tais como cronogramas, para introduzir as mudanças;
  • Fazer mudanças graduais;
Interesses
  • Incentivar a criança a ampliar as suas áreas de interesse. Por exemplo, se a criança colecciona embalagens de chocolates, procurar interessá-la em localizar os países onde os chocolates são produzidos. Isto poderá levá-la a aprender mais acerca das pessoas e dos costumes de diferentes países;
  • Ajudar a transformar interesses em hobbies, se possível. Por exemplo, se a criança gosta de rasgar papel, tentar ensiná-lo a dobrar papel ou a fazer um origami;
  • Oferecer oportunidades para desenvolver interesses novos ou diferentes. Por exemplo, se um adolescente gosta de brincar na água, incentivá-lo a aprender a nadar;
  • Apresentar objectos do interesse da criança;
 Literacia
  • Colocar em exposição as suas tentativas de escrita criativa aceitáveis para encorajá-los a continuar a realizar um bom trabalho, e também para proporcionar-lhes uma recordação visual das suas tentativas bem conseguidas no passado;
  • Apoiar o aluno na execução de tarefas de escrita criativa;
  • Não se deve esperar, inicialmente, que eles sejam capazes de produzir uma grande quantidade de trabalho criativo de elevada qualidade. De qualquer forma, deve-se tentar que criem um título imaginativo de uma história e uma ou duas primeiras orações.
  • Dizer, de forma alternada, orações aos profissionais para que estes as escrevam pelos alunos;
  • Utilizar reportagens de jornais ou revistas que tratem de matérias que são do interesse do aluno como um bom ponto de partida criativo;
  • Os alunos podem beneficiar de um encorajamento para refinarem a formação de letras ou palavras individuais. Isto pode ser conseguido, com mais facilidade, usando um dedo para traçar linhas numa superfície de areia, tanto na caixa de areia da sala de aula, no caso dos alunos mais novos, como num tabuleiro de formato A4, no caso dos mais velhos. Em alternativa, podem ser usados quadros negros de giz ou brancos portáteis, ou, se estes não existirem, uma folha de papel A4 plastificada.
 Matemática
  • Apresentar, para aquelas crianças que são capazes de absorver a linguagem e expressar-se, a matemática em palavras;
  • Usar um programa de matemática em que a criança aprende a brincar após a aula e em casa. No qual classifica blocos segundo forma e tamanho, ordena-os do menor para o maior, faz uso desses conhecimentos para construir uma torre que balança o que leva a criança a brincadeiras “faz-de-conta” se tiverem algum vocabulário. Pode-se também mostrar-lhe da mesma forma, como trabalhar com areia, construir castelos, peneirando-a, passando-a de um balde maior para um menor, etc.;
  • Itens tangíveis ou comestíveis são uma boa forma de ensinar a um estudante o conceito de “menos” e de “mais” e de divisão, especialmente quando a lição progride de maneira a incluir partilha física e a distribuição de porções a outros companheiros da turma;
  • Adaptar a fraseologia habitual da matemática; por exemplo, em vez de “quatro vezes quatro”, pode dizer-se “quatro caixas de chocolates Mars, contendo cada uma quatro barras de chocolate Mars”;
  • Usar as cores ou os interesses preferidos dos estudantes, sempre que possível;
  • Introduzir na sala de aula operações e conceitos relacionados com o sistema monetário;
 Trabalhos de casa
  • Passar alguns minutos com os alunos no final de cada lição em que tenham sido atribuídos trabalhos para fazer em casa, para clarificarem aquilo que deles é esperado e os conteúdos do trabalho;
  • Dizer por escrito os requisitos dos trabalhos para casa nos cadernos diários dos alunos;
  • Ajudar com o planeamento e o estabelecimento de prioridades e escrever lembretes mais adiante nos cadernos diários, para indicarem a data em que os trabalhos para casa devem ser entregues;
  • Dividir as tarefas ou os projectos dos trabalhos de casa que são para fazer a mais longo prazo em objectivos semanais específicos;
 Educação Física
  • Proporcionar actividades de educação física que possibilitem o desenvolvimento da coordenação, manipulação, equilíbrio, auto-confiança, iniciativa e imaginação;
  • Dar instruções independentemente do quão difícil for para as crianças segui-las visto que, isto não acontecendo o professor terá crianças praticando actividades livres, sem o menor sentido e objectividade, no qual não está a ser transmitido nada de significativo;
  • Quaisquer exercícios de EF ou actividades desportivas novas ou difíceis devem ser divididos em estádios mais pequenos e mais facilmente executáveis;
  • Utilizar exercícios que envolvam o corpo inteiro, como locomover-se de A para B, passar por cima, por baixo e por dentro de obstáculos, são mais adequados. Uma vez que não têm iniciativa própria a acção deve ser estimulada – ex: solicitar que empurrem e puxem objectos pesados funciona bem;
  • Permitir que os alunos que estejam a ter dificuldades em certas actividades (por exemplo, corrida de corta-mato de longa distância) completem apenas uma parte da tarefa;
 Métodos de trabalho
  • Utilizar actividades diversificadas como fazer colecções de diversos tipos, experimentar formas, densidades, manipulação de propriedades de substâncias, fricção com lápis de cera, impressão com tintas, impressão com os pés e mãos, registo das mudanças de tempo e das estações do ano através de diagramas, quantidade de alimentos dada aos animais, etc.;
  • Ajudar a desenvolver o pensamento criativo. Por exemplo, agarrar num papel no qual tenha estado a escrever e perguntar: “o que mais podes fazer com este papel?” Possíveis respostas poderão ser: dobrá-lo, cortá-lo em formas ou embrulhar alguma coisa com ele;
  • Encorajar o estudante a escrever à mão, primeiro, se quiserem ser recompensados com a permissão de escreverem palavras e orações, alternadamente, à mão e no computador. À medida que eles forem participando, de maior agrado, no trabalho escrito à mão, os profissionais podem discretamente aumentar as exigências de escrita manual que fazem aos alunos;
  • Colocar um aviso ou comentário nas passagens/tentativas aceitáveis já que inicialmente os estudantes podem mostrar-se particularmente sensíveis a correcções demasiado visíveis, pode ser mais apropriado. Gradualmente, à medida que os alunos se mostrem mais cooperativos, esta intervenção do professor pode alargar-se para incluir uma ou duas correcções por página;
  • Cobrir-se todas as questões, excepto aquela em que terá de trabalhar, com uma folha de papel branca;
  • Colocar à disposição do estudante uma folha com uma listagem de palavras apropriadas para o seu nível de aprendizagem;
  • Diminuir o tempo que a criança fica sozinha e sem actividade;
  • Criar uma área de trabalho privada/independente;
  • Utilizar tabuleiros de entrada e saída no seu trabalho, numa tentativa de evitar que sejam avassalados por um excesso de informação visual simultânea;
  • Estruturar o dia da pessoa autista, por exemplo usando objectos reais, fotografias, desenhos ou horários das actividades diárias por escrito;
  • Utilizar estímulos visuais nas actividades pedagógicas e no dia-a-dia (organizar o horário mostrar onde ela vai e o que vai acontecer);
  • Estruturar o ambiente de forma a que criança preveja o que se espera dela em cada situação;
  • Dar-lhe tempo para desempenhar as suas actividades preferidas num ambiente seguro;
  • Dar alternativas sempre que possível. Por exemplo, se a pessoa não gosta de barulhos intensos, dar-lhe uns auscultadores ou fones para usar quando estiver na rua;
  • Expor lentamente a pessoa a algumas das situações nas quais ela tem dificuldades;
  • Ensinar algo novo sem deixar que a criança erre, mesmo que para isso seja necessário segurar a sua mão e/ou dizer-lhe a resposta. Lembre-se de que ele não dispõe ainda do conhecimento e, frequentemente, é preciso que lhe transmita que é capaz de realizar algo novo, para que de facto o consiga. Por outro lado, se logo de inicio ele vivencia um fracasso isto poderá confundi-lo e possivelmente impossibilita-lo de aprender o que se deseja;
  • Subdividir as tarefas em etapas, simplificando mais do que normalmente seria preciso;
  • Manter por perto um objecto que ajudará a criança autista a acalmar-se, como um brinquedo preferido se soubermos que existe;
  • Retirar do ambiente objectos que desencadeiem comportamentos compulsivos;
  • Iniciar todas as situações que lhe sejam propostas por tarefas em que alcancem sucesso de forma a que se desenvolva a confiança essencial para que progridam;
  • Não fazer uma avaliação antes de certificar-se de que o aluno será bem sucedido, ou faça-a quando souber que ele é capaz de aceitar um fracasso;
 Regras
  • Lembrar o aluno que deve permanecer no seu lugar e que deve levantar a mão de cada vez que terminar uma ficha de trabalho;
  • Não o ameace com castigos. Seja consistente de modo que ele saiba o que ocorrerá caso “saia da linha”;
  • Retirar a criança da actividade e do ambiente (“time-out”) onde está inserida por alguns minutos caso o seu comportamento não seja adequado (ex: gritos);
  • Não dar à criança aquilo que ela espera obter através do comportamento inadequado, de forma contingente.
 Outras estratégias
  • Descobrir quem é o seu aluno? Em que estágio ele se encontra? O que ele é capaz de realizar?
  • Quais são as suas dificuldades específicas? De que é que ele gosta? Do que não gosta? É preciso que descubra os pontos fracos do seu aluno e reforce os seus sucessos sistematicamente;
  • Aprender a distinguir o significado de diferentes comportamentos conduz a uma melhor compreensão da criança e das suas necessidades individuais;
  • Informar os pais sobre quaisquer estratégias implementadas na escola, por insignificantes que possam parecer. Já que, normalmente, as pessoas com PEA não transferem as competências apreendidas para novos ambientes.
  • Procurar ajuda de outros profissionais especializados, competentes e sérios caso sinta dificuldades acrescidas;
  • Ser racional, evitar a impulsividade;

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