Perturbação de Personalidade Limite ou Borderline

O que melhor caracteriza as pessoas que sofrem desta perturbação é uma “instabilidade estável”.

Apresentam uma instabilidade mantida do humor, dos relacionamentos com os outros, da imagem que têm de si mesmos e do seus comportamentos. Essa instabilidade muitas vezes desorganiza a vida familiar e profissional, o planeamento a longo prazo e o sentido de identidade pessoal do indivíduo.
Originalmente consideradas como estando na fronteira da psicose, as pessoas portadoras de PPL têm um transtorno da regulação das emoções. Embora não tão conhecido quanto a esquizofrenia ou a perturbação bipolar, a PPL é mais comum, afectando 2% dos adultos, principalmente mulheres jovens.
Há uma frequência elevada de comportamento de auto-mutilação, assim como uma frequência significativa de tentativas de suicídio e de suicídio completo, em casos graves. Os doentes necessitam frequentemente de recorrer aos serviços de saúde mental, no entanto, com ajuda, muitos melhoram com o tempo e conseguem ter uma vida produtiva.

Quais são os sintomas?
Enquanto uma pessoa com depressão ou perturbação bipolar apresenta tipicamente o mesmo estado afectivo durante semanas, uma pessoa com PPL pode ter episódios intensos de raiva, depressão e ansiedade que podem durar apenas algumas horas, ou, no máximo, um dia. Estes podem associar-se a episódios de agressividade impulsiva, auto-agressão e abuso de drogas ou álcool. Distorções do modo de pensar (cognições) e da consciência do "eu" (auto-imagem) podem ocasionar mudanças frequentes nos objectivos a longo prazo, planos de carreira, empregos, amizades, identidade sexual e valores.
É frequente que se considerem injustamente incompreendidos ou maltratados, aborrecidos ou “vazios” e terem pouca noção de quem são. Esses sintomas são mais agudos quando os indivíduos portadores do PPL se sentem isolados e carentes de apoio social, fazendo esforços “frenéticos” para evitar ficar sozinhos.
As pessoas portadoras do PPL apresentam com frequência padrões de relacionamentos muito instáveis. Elas podem vir a ter ligações intensas, porém tempestuosas. A suas atitude para com os familiares, amigos e ente queridos pode passar subitamente da idealização (grande admiração e amor) à desvalorização (intensa raiva e desaprovação). Assim, elas podem formar uma ligação imediata e idealizar a outra pessoa, mas ao ocorrer uma pequena separação ou conflito passam inesperadamente para o outro extremo e acusam furiosamente a outra pessoa de não ter absolutamente nenhum afecto por elas. São muito sensíveis à rejeição, reagindo com raiva e angústia a pequenas separações como um período de férias, uma viagem de negócios ou uma súbita mudança nos planos.
Esse medo do abandono parece estar relacionado com a dificuldades em se sentirem emocionalmente ligados a pessoas importantes quando estas se encontram fisicamente ausentes. Podem ocorrer ameaças e tentativas de suicídio, juntamente com a raiva, no casos de abandonos e desapontamentos percebidos pelos indivíduos.
As pessoas com PPL apresentam outros comportamentos impulsivos, como gastos excessivos, comer compulsivamente, abusar de drogas e álcool, sexo de risco ou condução arriscada.
É frequente que estas pessoas tenham outros problemas psiquiátricos, especialmente perturbação bipolar, depressão, ansiedade, abuso de drogas/álcool e outras perturbações de personalidade.

Como se trata?
O tratamento é feito sobretudo com psicoterapia de grupo e/ou com psicoterapia individual. Os tratamentos farmacológicos são frequentemente prescritos com base em sintomas alvo específicos apresentados pelo paciente individual. Antidepressivos e estabilizadores do humor podem ser úteis para o humor deprimido e/ou lábil. Drogas antipsicóticas também podem ser usadas caso haja distorções do pensamento.
O tratamento é demorado e difícil, uma vez que o que está a ser tratado é uma forma de lidar com o mundo, com os outros e com as próprias emoções que muitas vezes as pessoas reconhecem como “sempre fui assim”. É de esperar pelo menos 1 ano de tratamento continuo.
O inicio da relação terapêutica é particularmente difícil, pois é habitual que as pessoas com PPL “testem os limites” exibindo demonstrações de raiva e alternando períodos de idealização(ex: “o meu psicólogo é a única pessoa que me compreende e ajuda”) com períodos de desvalorização (ex: “você não percebe nada disto e não me pode ajudar”). Muitas vezes existe uma grande sensibilidade a pequenas rejeições (ex: atrasos de consultas podem ser sentidos como “ele não gosta de mim").
É necessário que os terapêutas ultrapassem esta fase mais defensiva através de insistência, demonstrando que estão presentes e sempre prontos a ajudar, compreendendo que demonstrações agressivas são “testes” ao quanto ele se preocupa com o doente.
Como em todas as perturbações de personalidade e na maioria das doenças psiquiátrica, não é possível ajudar quem não quer mudar… envolvendo isto um esforço pessoal intenso.
As taxas de remissão são de 75% em 6 anos, sendo que as recorrências são raras <10%. Os sintomas que melhoram mais rapidamente são os comportamento suicidas e de auto-mutilação e as sensações “quase psicóticas” (ex: “toda a gente me quer lixar e olham para mim como se fosse diferente”). Habitualmente mantêm-se alguns sintomas afectivos atenuados como ataques de raiva, sensação de vazio, vulnerabilidade à depressão e dificuldade na relação com os outros.

Pesquisas:
A causa da PPL não é conhecida, mas tanto factores biológicos quanto psicológicos e sociais são considerados como contribuintes.
Muitos indivíduos com PPL, porém não todos, relatam uma história de violência, negligência ou separação quando crianças (40 a 71% dos pacientes relatam terem sido vítimas de violência sexual).
Os adultos com PPL têm uma probabilidade consideravelmente maior de serem vítimas de violência, incluindo abuso sexual e outros crimes. Isso pode decorrer tanto de ambientes prejudiciais como da sua impulsividade e mau julgamento ao escolher parceiros e estilos de vida.
A pesquisa em neurociências mostra, na PPL, alterações cerebrais que predispõem à impulsividade, instabilidade do humor, agressividade, raiva e emoções negativas. Parece existir uma incapacidade suprimir as emoções negativas.

Fonte: Psiadolescente

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